O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse neste sábado (23/07) que é “urgente” que ocorra diálogo entre seu país e o Chile para resolver “questões humanitárias”, em meio a uma crise causada pela revogação de visto diplomático para oficiais bolivianos. O chanceler do Chile, por sua vez, classificou a declaração de Evo como “piada”.
Na terça-feira (19/07), o governo do Chile anunciou a revogação de visto para diplomatas e funcionários do governo da Bolívia após visita não anunciada do chanceler do país, David Choquehuanca, para verificar as condições de trabalhadores bolivianos em portos chilenos.
Agência Efe
Evo Morales afirmou ser “urgente” o diálogo entre a Bolívia e o Chile para resolver questões humanitárias
“É urgente o diálogo para resolver questões humanitárias de dois povos irmãos”, escreveu Morales em seu Twitter.
Es urgente el diálogo para resolver temas humanitarios de dos pueblos hermanos.
— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) 23 de julho de 2016
Em outra mensagem, endereçada ao governo do Chile, o mandatário afirmou que “é mais digno reconhecer que desconhecer falhas sobre questões humanas”.
Também pelo Twitter, o ministro de Relações Exteriores do Chile rechaçou o pedido de Evo Morales.
“Oferecem ‘diálogo’ depois de show… e seguem reclamações. Uma piada. Diálogo é com respeito (princípio elementar) e por condutas apropriadas”, escreveu.
Ofrecen “diálogo” después de show…y siguen agravios. Un chiste! Diálogo es c/respeto (principio elemental) y por conductos apropiados.
— Heraldo Muñoz (@HeraldoMunoz) 23 de julho de 2016
A revogação dos vistos diplomáticos para oficiais bolivianos ocorreu um dia depois de uma comitiva de 60 pessoas, liderada por Choquehuanca, ter visitado os portos de Arica e Antofagasta, no norte do Chile, para verificar denúncias de abusos e discriminação contra transportadores bolivianos que violariam o Tratado de Paz e Amizade assinado por ambas as nações em 1904 e que determina o direito de livre trânsito de cargas bolivianas por portos chilenos.
Agência Efe
Ministro de Relações Exteriores do Chile, Heraldo Muñoz, diz que oferecimento de diálogo é “chiste”
O governo do Chile nega as acusações de que estaria desrespeitando os tratados.
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A visita não foi previamente comunicada ao governo do Chile, que desaprovou a atitude boliviana. O ministro das Relações Exteriores do Chile, Heraldo Muñoz, disse que a revogação dos vistos se deu “em consideração ao que foi uma suposta visita de inspeção, que foi uma visita privada e na qual se abusou da generosidade do povo chileno e da tolerância de nosso país”.
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Chanceler boliviano, David Choquehuanca, liderou comitiva para verificar situação de trabalhadores bolivianos em portos do Chile
A decisão do Chile foi criticada pelo governo de Morales, que anunciou que não tomaria medida semelhante em relação aos chilenos. Pelo Twitter, o mandatário elogiou também o trabalho “histórico, inédito e heroico” feito pela delegação que visitou o Chile, que verificou “o descumprimento de acordos, abuso e violação de direitos humanos de bolivianos”.
A revogação de vistos não foi estendida a cidadãos bolivianos, que poderão continuar entrando no país vizinho utilizando apenas seus documentos de identidade.
A tensão diplomática entre Chile e Bolívia já dura décadas, tendo interrompido relações em 1978 devido à demanda boliviana de acesso ao mar. Em 2013, a Bolívia apresentou um requerimento à Corte Internacional de Haia exigindo uma negociação com o Chile para restituir sua saída ao mar perdida durante a Guerra do Pacífico (1879-1883).