“Lamento que nas vésperas da visita do papa o país se encontre convulsionado”. Assim o presidente do Equador, Rafael Correa, se referiu aos protestos pró e contra o governo realizados em Quito nesta quinta-feira (02/07), dias antes da visita do papa Francisco, que chegará ao país no domingo (05/07).
Correa diz que está em curso um “golpe suave”, pois, segundo ele, as marchas de oposição, convocadas por políticos como o prefeito de Guayaquil, Jaime Nebot, e o ex-candidato presidencial Guillermo Lass, exigem sua renúncia.
Agência Efe
Manifestantes opositores tentaram furar o cerco policial para chegar no palácio, onde era realizada marcha pró-governo
No centro da contenda estão os projetos de lei enviados por Correa ao Congresso, que previam impostos a grandes heranças e contra a especulação imobiliária. Diante do descontentamento gerado no país, o mandatário retirou as propostas e chamou os setores descontentes para um debate nacional, considerando, inclusive, a realização de uma consulta popular sobre os temas. Ainda assim, a oposição manteve os protestos.
O ministro do Interior do país, José Serrano, disse que a “inteligência do país” detectou supostos movimentos opositores para tomar aeroportos e fechar avenidas, a fim de inviabilizar a visita do papa Francisco. Segundo ele, “há uma conspiração em marcha, cujo objetivo é tomar o Carondelet [palácio presidencial]”. O relatório, divulgado pelo ministério comandado por Serrano, citou nomes e sobrenomes de pessoas supostamente envolvidas nesse movimento. Entre eles está Lourdes Tibán, do movimento Pachakutik. Ela, no entanto, negou as acusações. “Não queremos uma paz temporária só porque vem o papa. Queremos um Equador de paz e liberdades”, disse.
Agência Andes
Presidente saiu quatro vezes no balcão em meio a grito de “uh-ah Correa não se vá”
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A esse respeito, Correa comparou a atitude dos opositores com os protestos na Venezuela, no início de 2014. “Tentam nos manter em constante enfrentamento, como fizeram na Venezuela. Não conseguirão”, disse. Nesta quinta, o presidente foi além. “Se os adversários querem a presidência, que a disputem nas urnas. Temos de estar vigilantes, essa investida continuará até 2017”, afirmou.
Por outro lado, cerca de cinco mil pessoas se reuniram diante do palácio presidencial para manifestar apoio ao governo. Blanca González, de 72 anos, estava na marcha de apoio a Correa. “Quantos presidentes sujos não vi cair? Agora não há pior cego do que o que não quer ver. Este é o melhor presidente da história; por isso estou aqui até que se acabe essa festa, ainda que que doam as pernas”, disse à agência Andes.
O líder sindical Mesías Tatamuez negou as acusações do governo: “dissemos ao Equador e ao mundo que iríamos fazer um ato pacífico e assim o fizemos. Como fica [demonstrada] a mentira do governo que disse ao mundo que iríamos sabotar, que iríamos derrubar o presidente!”.
Taxação de heranças e especulação
A “Lei para a Distribuição da Riqueza”, enviada pelo governo do Equador, prevê um imposto progressivo que começa com 2,5% para heranças de US$ 35,4 mil e chega a 47,5% para as heranças superiores a US$ 566,4 mil.
Correa afirma que apenas 0,1% da população “pagará algo representativo”, caso a lei de taxação de fortuna seja aprovada.
Da mesma forma, afirmou que a lei da mais-valia de terras não afetará o povo, já que se dirige especialmente aos especuladores de terra. Ele também desafiou a oposição a demonstrar que as propostas afetam os pobres e a classe média. “Se provarem, retiro imediatamente as propostas”, garantiu.