Atualizada em 1.abr, às 10h04
O governo do Chile aceitou no final da tarde desta segunda-feira (30/03) a ajuda humanitária oferecida pela Bolívia, com quem trava uma disputa territorial na CIJ (Corte Internacional de Justiça), para os afetados pela enchente no deserto do Atacama, no norte do país. A atitude de Santiago, de recusar os mantimentos bolivianos, foi criticada por analistas, que diziam que uma “picuinha” internacional estaria prejudicando o auxílio às vítimas.
“O Chile agradece toda a ajuda humanitária enviada tanto por países com quem temos relações quanto por países com quem não temos relações diplomáticas”, afirmou o chanceler Heraldo Muñoz.
Agência Efe
Enchentes deixaram pelo menos 17 mortos no país; Chile vai aceitar ajuda da Bolívia
Segundo Muñoz, a negativa anterior teria partido do cônsul do país em La Paz, Milenko Skoknic, que teria respondido à Bolívia que agradecia a ajuda, mas que ela não era “necessária”, sem consultar a diplomacia em Santiago.
Além disso, o chanceler também disse que a carta publicada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados do Chile, acusando o governo de Evo Morales de “querer se aproveitar da tragédia chilena para fazer publicidade e tentar usar esse gesto em seu favor no processo marítimo”, não representa o pensamento do Poder Executivo ou da presidente Michelle Bachelet, que agradece a ajuda de todos os que enviaram ajuda, inclusive a Bolívia.
Já na manhã desta terça-feira (31/03), no entanto, nova polêmica: o ministro de Defesa boliviano, Jorge Ledezma, chegou em Copiapó (uma das cidades atingidas) liderando a comitiva que trazia os mantimentos oferecidos aos atingidos pela tragédia. Porém, no desembarque, o ministro exibia uma jaqueta com a frase “o mar é da Bolívia”, o que gerou reações de autoridades chilenas e do Poder Executivo, que qualificou o gesto como “uma provocação desnecessária e um desrespeito às vítimas das enchentes”.
Após o incidente, Morales demitiu Ledezma. Segundo o presidente boliviano, “o oferecimento nasceu da vontade da Bolívia de ajudar todo país irmão que vive uma tragédia desse tipo, e não existe nenhum afã de utilizar isso para expressar outra coisa que não seja o desejo de recuperar essas vidas. O ex-ministro Ledezma usou a missão para manifestar algo pessoal, e não se pode cometer esse tipo de erro”.
NULL
NULL
Enchentes
Nos últimos dias, choveu na região mais do que nos últimos cinco anos juntos. Isso fez com que os rios transbordassem, com o agravante de que quase todos são usados pela indústria mineira (principal atividade econômica do país) para despejar lixo tóxico. Já há 17 mortos, além de 22 desaparecidos e mais de 10 mil desabrigados.
A Bolívia ofereceu a Santiago uma ajuda de 30 toneladas de alimentos e 20 toneladas de água potável, então prontamente recusada pelo governo de Michelle Bachelet. A especulação de preços na área afetada elevou o preço de alguns produtos em mais de 200% – o galão de seis litros de água, que normalmente custa 1.600 pesos (cerca de R$ 8), pode ser encontrado a até 5.000 pesos (R$ 25) em algumas localidades.
Moção de repúdio
Na sexta-feira (27/03), partidos de oposição protocolaram no Congresso uma moção de repúdio contra o governo, pela suposta demora na reação e descoordenação evidenciados nos comunicados realizados pela Onemi (Departamento Nacional de Emergências) durante os primeiros dias de chuva (24 e 25 de março). Em um dos primeiros comunicados do órgão, foi dito que a previsão indicava redução das chuvas, o que não aconteceu.